MESA DE CAFÉ
Estava sentada no meio do café, com as mesas cheias
à sua volta. Estava sozinha, e o olhar perdia-se
entre o ar e o balcão, fingindo estar atenta
ao que se passava, como se alguma coisa se
passasse entretanto. Tinha tomado o café; e o copo
de água estava cheio, ao lado de um cinzeiro
que não servia para nada porque não fumava.
Segui a direcção dos seus olhos, vendo o vazio
formar-se no lugar em que os meus e os dela
se cruzavam, nessa zona branca do café em que
o fumo dos cigarros absorvia as conversas e
o barulho das chávenas. E deixei-a estar, por
algum tempo, na ilusão de que estava sozinha,
até olhar para a porta, de onde alguém viria.
Não fiquei para saber se quem chegou era quem
ela esperava, ou se continuaria a fixar o
horizonte da parede onde um relógio insistia
em pontuar o tempo. E continuo a vê-la,
puxando o cabelo para trás, num gesto de quem
julga que alguém vai chegar, sem saber que
quem havia de chegar a deixou sozinha, comigo.